Salmo133: Venerável Mestre - J. castellani
VENERÁVEL
MESTRE
J.
Castellani
Origem
do título
O
título de Venerável Mestre, dado ao presidente de uma Loja maçônica, tem a
sua origem mais remota nos meados do século XVII, quando já começara a lenta,
mas progressiva, transformação da Francomaçonaria de ofício, ou operativa,
em Francomaçonaria dos aceitos, ou especulativa (1). Nessa época, porém, nem
existia o grau de Mestre Maçom, que só seria introduzido no século XVIII, a
partir de 1724, e efetivado em 1738, e o presidente da Loja era escolhido entre
os mais antigos e experientes Companheiros --- que era um mestre-de-obras --- ou
era o proprietário mesmo, o qual, como dono da obra, era vitalício na direção
dos trabalhos dos obreiros.
Derivado
da palavra inglesa worship, que significa culto,
adoração, reverência --- como forma de tratamento --- quando
usada como substantivo, e venerar, adorar, idolatrar,
quando usada como verbo transitivo, tem-se o vocábulo worshipful,
que significa adorador, reverente, venerável,
como forma de tratamento. Dessa maneira, o presidente da Loja passou a ter o título
de Worshipful Master, que significa Venerável Mestre
e que seria adotado por todos os círculos maçônicos, embora o termo Venerável,
de início, fosse aplicado apenas às organiza?ões de artesãos.
Adotando-se a
cerimônia de Instalação, como faz a Maçonaria inglesa, é só depois de
passar por ela que o Venerável Mestre eleito pode se considerar empossado ---
instalação é sinônimo de posse --- e empossar os membros de sua
administração, entrando na plenitude de seus direitos exclusivos, entre os
quais se inclui o de sagrar (2) os candidatos à iniciação, à elevação, ou
à exaltação. Tão rígido é tal dispositivo, que, em uma sessão à
qual não esteja presente o Venerável Mestre, sendo, ela, portanto, dirigida
pelo 1º Vigilante, que não seja um Mestre Instalado, ele deverá, no momento
de sagrar o candidato, solicitar, a um Mestre Instalado presente, que o faça,
sem o que a cerimônia não poderá ter validade.
Origens das atribuições litúrgicas
A
origem mais
remota dessa prática está na Cavalaria medieval, cujos integrantes, os
cavaleiros, só podiam ser sagrados por um rei, por um príncipe, ou por um alto
dignitário eclesiástico. Estes, para a sagração, colocavam a lâmina da
espada sobre os ombros do candidato, alternadamente (e terminavam, em alguns
casos, com a acolada, que era uma pancada no pescoço do candidato).
Apesar
de alguns autores não admitirem influência da Cavalaria, das Ordens Militares
e dos Cruzados sobre a Maçonaria, existe, na realidade, uma similaridade muito
grande entre as práticas maçônicas da instalação e as práticas dessas
institui?ões, pois é claro que, embora não se possa, de maneira alguma,
ligar as origens da Maçonaria aos Cruzados, ou à Cavalaria, influências
desses agrupamentos podem existir em qualquer ramo do conhecimento humano. Na época
do apogeu da Cavalaria, no decorrer do século XI, ela possuía hierarquia,
graus e brasões. As Cruzadas acabariam contribuindo para o incremento do prestígio
dos cavaleiros, dando, à sua atividade, um forte cunho religioso, que se
exteriorizava na promessa de defender a Igreja, defender a cristandade e
combater os infiéis, além do compromisso de fidelidade ao senhor feudal, de
proteção aos fracos, oprimidos, mulheres e órfãos, de respeito à hierarquia
e à disciplina e de combate à calúnia, à mentira e aos vícios.
A
educação do cavaleiro começava na infância e, depois de cuidadosamente
preparado,ele prestava o serviço militar, entre os 15 e os 21 anos de idade,
primeiramente como pajem, atendendo ao senhor feudal em todos os serviços domésticos
do castelo, e, posteriormente, como escudeiro, acompanhando ao seu senhor nas
batalhas e lutando ao seu lado. Aos 21 anos, então, o escudeiro era armado
cavaleiro, numa cerimônia à qual a Igreja imprimiu um profundo caráter
religioso. Para esta cerimônia, inicialmente, o candidato ficava encerrado,
durante toda a noite, na capela do castelo, orando e velando as armas; ao romper
da aurora, ele fazia a confissão, comungava e participava da missa, onde o sermão
principal destacava os deveres que ele assumiria, como cavaleiro. Passava-se, em
seguida, à cerimônia, realizada no pátio principal do castelo, ocasião em
que o cavaleiro era sagrado e armado, tendo, como padrinho, o senhor com o qual
aprendera a arte militar.
A
ação da Igreja nessa cerimônia, na época de apogeu da Cavalaria (séculos XI
e XII), ainda é mostrada em outras práticas: o sacerdote benzia a espada do
cavaleiro e comunicava que ela sempre deveria ser usada para servir à Igreja e
defender os fracos, os oprimidos, as viúvas, os órfãos e, de maneira geral,
todos os servidores de Deus, "contra a crueldade dos pagãos". O
cavaleiro era purificado, através de um banho ritualístico, e recebia uma
camisa de linho branco, como símbolo da pureza, e uma túnica vermelha, como símbolo
do sangue, que deveria ser vertido a serviço de Deus.
Tais
costumes mostram uma certa influência sobre muitos costumes maçônicos --- não
se pode esquecer que a Francomaçonaria floresceu à sombra da Igreja --- como a
permanência na Câmara de Reflexão, a sua purificação, a cor branca do
avental e das luvas, a espada, a sagração, as preleções, o juramento, o voto
de defesa dos fracos e oprimidos.
Notas
1. Essa progressiva
transformação iniciou-se no século XVII, quando, com a decadência do estilo
gótico --- e a concomitante ascensão do renascentista --- as organiza?ões de
oficio começaram também a entrar em decadência. E, para tentar sobreviver,
resolveram aceitar, em suas Lojas, homens não ligados à arte de construir e
que, por isso, foram chamados de Maçons Aceitos. O processo de
aceitação desenvolveu-se durante todo o século XVII, a ponto de, no final
dele, o número de aceitos sobrepujar, largamente, o de operativos, o que
propiciaria, em 1717, a criação da primeira Obediência maçônica da História,
a Premier Grand Lodge, em Londres.
2. Sagrar, aí, tem o
sentido de conferir a dignidade do grau e não o de santificar, ou tornar
sagrado, como muitos pensam. É o mesmo com a sagração de templo: a cerimônia
confere, ao local, a dignidade de templo maçônico.
ÉS O VENERÁVEL
Cumpre com amor e pujança
Que te tornou admirável
Com rigor, com temperança
Esta estação formidável
Faz do malhete constança
De equidade incontestável
No Trono que traz a herança
De sabedoria inegável
Dissemina Fé e Esperança
A Caridade inefável,
Em austera governança
Mestre e irmão respeitável
Em ti nossa confiança...
És agora...o Venerável !!
Adilson Zotovici
ARLS Chequer Nassif No. 169, GLESP
Do livro "Manual do Mestre Instalado" (leitura restrita a Mestres Instalados, com exceção das partes gerais).
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