sábado, 6 de março de 2010

Posse na APML - 27/2/2010

Cerimônia de posse do novo presidente da A.P.M.L. - Academia Paulistana Maçônica de Letras, Professor Shlomo Zekry, dia 27/2/2010, orientada e presidida por um dos seus lídimos fundadores e presidente de honra da Academia, Dr. Antonio Soares da Fonseca, que depois de eximia condução dos trabalhos ritualísticos e elaborada oração passa a palavra ao presidente da gestão cessante Dr. L. Dalton, para a referida transmissão.

Logo, instado pela presidência faz uso da palavra o past-Presidente Professor Erasmo Figueira Chaves:

Aos que presidem e compõem a mesa, produzindo esta egregora tão propícia, inspiradora e essencial, os meus parabéns! Ao novo e ao Past-presidente imediato o meu abraço e votos de plenitude e felicidade no desempenho de seus ideais maçônicos.
Uma palavra legítima de congratulação e identificação com este momento solene, que envolve inapelavelmente os destinos e significado de nosso sodalício, desejo prazeirosamente proferir, pois trata-se com justiça de reconhecer, de enaltecer, consagrar e ressaltar a missão e sentido da significativa A. P. M. L. e sobretudo aos ideais que a movem, expressos nas “letras” de sua significativa e titular definição: “Academia Paulistana Maçônica de Letras”.

As letras de nossa agremiação não são, nem podem ser quaisquer letras, letras corriqueiras, comuns, vulgares, destituídas do espírito samaritano reparador e construtor, mas certamente são e serão sempre as letras Maçônicas, cristalinamente testemunhais, aquelas que produzem bons frutos, oriundas da alma, mente e coração, cultivadas como um todo harmônico na verdade de fatos concretos, transparentes, translúcidos, límpidos instrumentos e bons documentos, letras abrigadas e latentes num corpo material mas passageiro, missionário e etéreo, DNA traiçoeiro quando não avisa seu possuidor, administrador da transcendência de sua realidade terrena e passageira, letras que Só são imortais quando eivadas de destinos grandes e princípios salutares, cônscias, construtivas, exemplares, expressivas, significativas para a construção da pedra polida, brunida, luzidia, que antes era bruta e rugosa, como a pedra bruta em que Miguel Angel visualizava, previa que naquela brutalidade, o maciço de pedra bruta, a “Pietá” lá estava dentro, “bastava apenas lapidar-lhe os excessos”.

Letras enfim que constituem palavras, palavras que representam gestos, perfis e atitudes, atitudes, expressões, sutilezas, parágrafos, preciosidades oriundas contudo do ser material evolutivo concreto, mas veículo poderoso, instrumental, imaterial, transcendente e civilizador, que da perfeita consciência da animalidade histórica original que o constitui, se torna evolutivamente a expressão da vontade transcendente da criação.

Letras, letras de humildes pedreiros construtores de ogivas materiais, inspiradas no entanto nas linhas ogivais das mãos postas em oração , oração latente, permanente, constante, residente nos ocultos escaninhos de neurônios bem computados, cuidadosa e constantemente alimentados e, na magnificência de coração sensível aos acordes do bom senso e do bem comum, na ação esperançosa transcendente e dignificante, obediente à culta inteligência e à razão evolutiva.

As letras e atos maçônicos precisam estar imunes às influências e contaminações externas de uma civilização espúria, mas contrariamente precisam e devem significar testemunho cristalino, transparente e influência eficaz aos costumes deletérios e comportamentos nefastos externos.

Foi nessa realidade transcendente em que o nosso ilustre irmão Ruy Barbosa, “batalhou o bom combate” durante toda a sua brilhante e significativa vida. Por esses ideais estrebuchou em certo momento histórico de nosso país. Meu comentário se insere e identifica respeitosamente, com a expressão de repúdio ao nefasto tão espontaneamente manifesto por Ruy, em suas sentidas palavras de cidadão moralmente ofendido.

Educação! Educação! Educação ! é o que clama a nação !!! . . .

Essas são as “Letras” que aspiro e propugno para nossa Academia Paulistana Maçônica de Letras”

O irmão Ruy Barbosa: Uma benção. Paladino inconfundível, espírito de justiça, expressividade altruísta e patriótica. Vida totalmente dedicada a construir civilidade, cidadania e civilização. Cabal testemunho de integridade e clarividente inteligência. Um grito de virilidade e lucidez intelectual. Lamento lúcido, conspícuo, espontâneo, sincero de dor que não abala mas afirma lapidarmente profundas, apropriadas e muito pessoais convicções:

“. . . De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar¬¬-se da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”
Ruy Barbosa – 05/11/1849-01/03/1923

“. . . A pátria não é ninguém: são todos; e cada qual tem no seio dela o mesmo direito à idéia, à palavra, à associação. A pátria não é um sistema, nem uma seita, nem um monopólio, nem uma forma de governo: é o céu, o solo, o povo, a tradição, a consciência, o lar, o berço dos filhos e o túmulo dos antepassados, a comunhão da lei, da língua e da liberdade. Os que a servem são os que não invejam, os que não infamam, os que não conspiram, os que não sublevam, os que não desalentam, os que não emudecem, os que não se acobardam, mas resistem, mas ensinam, mas se esforçam, mas pacificam, mas discutem, mas praticam a justiça, a admiração, o entusiasmo. Porque todos os sentimentos grandes são benignos, e residem originariamente no amor. . .” Ruy Barbosa: Palavras à Juventude

QUE MARAVILHOSA CONCEPÇÃO DA DEMOCRACIA REPUBLICANA ! . . .

Podemos nós “imortais” das letras maçônicas ser coadjuvantes e instrumentos na sua difusão? . . .

No entanto esta insigne figura, maravilhoso exemplo de nossa história e incomensurável valor cultural, embora presidindo em frio bronze o plenário do nosso Congresso Nacional, não consegue impregnar os congressistas, com o seu vital exemplo, espírito lúcido, sentido de missão, justiça e palavra mensageira edificante.

. . . (Aliás,quando Ruy Barbosa declarou: “a justiça tardia nada mais é do que injustiça institucionalizada” sequer imaginou a falência moral em que seu País um dia fosse mergulhar.). . .

Outro maravilhoso irmão, no vigor de sua juventude aos 24 anos, mais um entre tantos maçons ilustres, tem a coragem e a dignidade de elevar sua voz clamando e chamando a atenção do todo poderoso José Bonifácio, amigo, ministro e conselheiro do Príncipe e Rei, envergonhado e indignado contra o sistema que permitia o tráfico de escravos:

Andrada, tira esse pendão dos ares”!!! . . .

Coragem, coragem, coragem, autoridade moral, testemunho e ação !!! . . .

Na atmosfera de corrupção e desastres políticos e administrativos por que passa a nação, qual o desafio que se nos apresenta, como representantes das letras maçônicas? Qual o dever ou contribuição que nos é requerida ou de nós esperada?

A propósito, qual era a atmosfera da realidade sociológica imperante nos idos tempos da era Camoniana? Luiz Vaz de Camões, estruturador, depurador da nossa língua, a maravilhosa língua portuguesa com que nos comunicamos e com ela elaboramos, idealizamos, nos realizamos, dizia, em singelos e corajosos versos, à época dos descobrimentos, lá pelos idos de 1550:

. . . “Ao desconcerto do Mundo” . . .

“Os bons vi sempre passar
No mundo graves tormentos,
E para mais me espantar
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Buscando alcançar assim,


O “bem” tão mal ordenado
Fui mau, mas fui castigado.
Assim que só para mim,
anda o mundo concertado!”
. . .
Luiz Vaz de Camões

Cansada está a nação de ver-se constantemente retratada nessa injusta, nada instrutiva pedagogia e confusão desconcertante, nessa autofagia de conceitos entre princípios e regras, produzindo-se o constante deprimente conflito, soberanamente injusto e frustrante sentimento do cidadão comum, em que por mais que faça e imite o comportamento geral, na cândida intenção de acerto, admitido como razão consensual, na ausência de orientação confiável e Rumo Certo, não deixa de errar constantemente e sentir compungido, triste e profundamente

que só para mim, anda o mundo concertado!”. . .
e só ele portanto castigado! . . .
. . . “O favor com que mais se acende o engenho,
Não no dá a Pátria, não,
Que está metida no gosto da cobiça e na rudeza
De uma agastada, insana e vil tristeza” . . .

Luiz Vaz de Camões

Agastada, insana e vil tristeza” numa época de esplendor advinda dos descobrimentos, em que Portugal dominava as rotas marítimas e o comércio mundial.

Ah, mas a bendita ou melhor dizendo, a maldita, maldita e eterna corrupção, grassava então como agora, impedia vôos do espírito de justiça e fraternidade para todos igualmente.

A quem estava falando, com suas mensagens o grande vate? Apenas a seus contemporâneos ? Ou suas mensagens encerram conspícua lealdade a princípios eternos que sempre se esquecem, ou jamais se aprendem de geração após geração? Não está falando-nos pessoalmente hoje? Podemos nós maçons e literatos contribuir de alguma forma para modificar esse status?

Espelhemo-nos e inspiremo-nos no espírito do grande maçon e literato que foi Ruy:

. . . “Porque todos os sentimentos grandes são benignos, e residem originariamente no Amor” . . .(Ruy Barbosa – oração aos moços)

Amor fraterno para com a humanidade, paralelamente ao amor fraterno entre irmãos. Amor que nos impele à ação da coragem, do alerta, da admoestação, da sinalização de escolhos, para a correção de rumos. Amor que nos leve intima e categoricamente a saber que não se pode servir a dois senhores ao mesmo tempo. Amor que nos inspire à palavra de contemporização, sempre que a mesma conduza à verdade,à justiça, ao perdão aspirado e à bondade inconfundível desejada, sem qualquer hipocrisia ou cálculo malsão. Amor que em si é autoridade moral. Amor que impregna a alma, a mente e o corpo, inspira a ação apropriada, necessária e de bem fazer. Da mesma forma que a essência do bem sublime da cidadania, da fraternidade e do bem comum, se insere e aufere do extrato essencial do samaritano cristianismo que nos foi ensinado pelo Mestre dos mestres no Sermão da Montanha:

. . . “Haveis ouvido que foi dito – olho por olho e dente por dente,- mas um novo mandamento vos dou:Amai-vos uns aos outros” !!! . . .






Erasmo Figueira Chaves
Past-Presidente da A.P.M.L.