domingo, 3 de agosto de 2014
PEQUENAS ATITUDES, GRANDES TRANSFORMAÇÕES
“Não tenha medo de crescer lentamente. Tenha medo apenas de ficar parado”. Provérbio Chinês
I – Grandes Obras de Humanidade
A Grande Pirâmide de Quéops (ou Khufu, para os Egípcios), a maior das Pirâmides de Gizé, originalmente com 146,6 metros de altura, foi construída por volta de 2.550 a.C., durante um período de grande prosperidade do antigo Egito. Embora existam inúmeras versões sobre a sua construção, estima-se hoje que tenha sido necessário o trabalho de algo entre 30.000 e 100.000 homens, ao longo de um período entre 20 e 50 anos, com a utilização de mais de dois milhões de blocos de pedra, cada um deles pesando em média duas toneladas e meia.
Como resultado concreto do esforço de cada um dos milhares de trabalhadores que participaram de sua construção, durante aproximadamente quatro milênios a Grande Pirâmide foi considerada a mais alta construção erigida pelo homem, tendo sido superada com a construção da Torre da Catedral de Lincoln, na Inglaterra, com 159 metros de altura, em 1311. Porém, a Torre da Catedral foi destruída em 1549 e a Grande Pirâmide só voltou a ser superada em 1889, com a inauguração da Torre Eiffel.
O grande artista renascentista Michelangelo levou 3 anos, de 1501 a 1504, para concluir a escultura “David”, medindo 5 metros e 17 centímetros de altura e esculpida em um bloco único de mármore já golpeado por outros escultores. Desde então, é considerada uma das obras primas do culturalmente fértil período do Renascimento. Na sequência, a partir de 1508, a pedido do Papa Júlio II, Michelangelo demorou 4 anos para concluir a ornamentação dos 1.100 metros quadrados que compõem o teto da Capela Sistina, no Vaticano.
Tanto a Grande Pirâmide do Egito, construída por milhares de homens, quanto a escultura David e a decoração da abóbada da Capela Sistina, estas realizadas praticamente por um único homem, tornaram-se obras primas aclamadas ao redor do mundo e ao longo dos séculos. Foram idealizadas por grandes sonhadores, mas sua concretização foi resultado do esforço árduo, incessante e contínuo de pessoas, durante longos anos.
No mais das vezes, valoriza-se o resultado: a grandiosidade e a perfeição do David, a imensidão da Grande Pirâmide, a beleza sem precedentes do teto da Capela Sistina. Poucas vezes, entretanto, valoriza-se o processo, a união de esforços, a sequência de pequenos atos individuais, dia após dia, que, somados, levaram ao resultado esplêndido.
Entretanto, de que adiantariam as grandes ideias, os grandes sonhos, as melhores intenções, se não fossem elas colocadas em prática ao custo de muito esforço e milhares de pequenas atitudes?
II – Grandes Pensadores
Usando o argumento de autoridade, não podemos deixar de considerar que diversos pensadores afirmaram de forma categórica o valor das pequenas atitudes na construção do sucesso, seja ele físico ou moral.
Aristóteles bem definiu que “somos o que fazemos repetidamente. A excelência, portanto, não é um feito, mas um hábito”. A ética Aristotélica ocupa-se não com aquilo que no homem é essencial e imutável, mas daquilo que pode ser obtido por ações repetidas, disposições adquiridas ou de hábitos que constituem as virtudes e os vícios. Seu objetivo último é garantir ou possibilitar a conquista da felicidade. A virtude, deste modo, não está nos grandes feitos, mas nos pequenos atos que, repetidos com disciplina e persistência, levam a eles.
Na mesma linha, o físico, matemático e filósofo francês Blaise Pascal, um dos criadores da análise combinatória e da teoria das probabilidades, afirmou que “a virtude de uma pessoa mede-se não por ações excepcionais, mas pelos hábitos quotidianos”.
Thomas Edison, conhecido pela invenção da lâmpada incandescente, mas que registrou nada mais nada menos que cerca de 1.000 patentes durante a sua vida, atestou com propriedade que “um gênio é uma pessoa de talento que faz toda a lição de casa”.
Ou seja, ao invés de ajustarmos nosso foco almejando grandes transformações repentinas em nossas vidas, é mais eficiente buscarmos pequenas transformações que, se contínuas e consistentes, nos trarão o sucesso, a elevação espiritual, a prosperidade, a luz.
Difícil contestar a autoridade de tão sábios pensadores.
III – Pequenas atitudes, grandes transformações
Mas, segundo essa linha de raciocínio, qual seria o segredo do nosso aperfeiçoamento pessoal?
O segredo de nosso aperfeiçoamento pessoal está, portanto, no rompimento dos ciclos viciosos e na manutenção dos ciclos virtuosos. Costumamos imaginar o sucesso e o aperfeiçoamento pessoal como algo grandioso, esperando uma grande e repentina mudança em nossas vidas. Na verdade, o sucesso e o aperfeiçoamento pessoal são consequências de pequenas melhorias diárias em nossas vidas. Pequenas, mas contínuas e consistentes.
E, sob a mesma perspectiva, qual seria a nossa missão como maçons?
Nossa missão como maçons está diretamente relacionada à implementação de pequenas melhorias diárias em nossas vidas, contínuas e consistentes, para que nossas pedras brutas possam ser polidas, contribuindo para a edificação de nossos templos interiores.
A pedra é o objeto do trabalho inicial de qualquer construção. Cada pedra é única e liberta-se da sua forma rudimentar por meio de um árduo trabalho de aperfeiçoamento, polindo as suas faces, alisando as arestas, para que a edificação possa ser construída.
O desbaste da pedra bruta retira uma lasca por vez, mas seu resultado é irreversível. A cada estocada do malho sobre o cinzel, a pedra se transforma e nunca mais voltará a ser a mesma. O polimento, assim, depende de inúmeras e precisas estocadas, contínuas, repetidas. Uma só estocada, por mais forte ou mais precisa que seja, não será suficiente para transformar a pedra bruta em pedra polida.
Portanto, de acordo com a máxima Aristotélica, é o hábito que torna o homem sábio. E é também o hábito que nos torna bons maçons. Nossa sabedoria só poderá ser comparada a uma das grandes obras da humanidade se for consequência de nosso trabalho árduo, incessante e rotineiro em busca do saber, assim como a Grande Pirâmide só se tornou possível em consequência do trabalho árduo, incessante e rotineiro de dezenas de milhares de trabalhadores. Assim como a obra David só se tornou possível em consequência do trabalho árduo, incessante e rotineiro do grande artista Michelangelo.
Trazendo a reflexão ao nosso dia a dia, entendo que nossa missão maçônica não está necessariamente relacionada à busca por grandes feitos isolados. Está, sim, relacionada à busca por pequenas melhorias em nossas vidas que, se implementadas diariamente, nos transformarão em grandes homens, em exemplos a serem seguidos por nossos filhos, por nossos irmãos, por aqueles que pertencem aos nossos restritos círculos de relacionamento.
Tornarmo-nos exemplos. Talvez aí esteja a grande medida do sucesso, da prosperidade e, por que não, da felicidade.
Nossos filhos, ao nos verem praticando uma pequena boa ação, entenderão o significado de amor ao próximo e da caridade. Ao nos verem parando o carro no sinal vermelho, entenderão o que significa respeitar regras estabelecidas para o bem comum. Ao nos verem devolvendo um troco recebido a mais, certamente saberão o que é, na prática, honestidade.
Nosso trabalho, como maçons, de polimento de nossa pedra bruta, passa necessariamente pela construção dos exemplos diários, em pequenos atos, que somados nos levarão à edificação de nosso templo interior e ao encontro de nossa própria essência.
IV – Conclusão
Assim como os grandes monumentos da humanidade foram construídos pela soma do trabalho individual árduo, diário e contínuo de centenas, por vezes milhares de homens, nossa função como Maçons deve ser executada de forma árdua, diária e contínua. Só assim os grandes resultados serão atingidos. Só assim as grandes transformações acontecerão.
Em nossa longa trajetória rumo à edificação de nossos templos interiores, busquemos romper os ciclos viciosos e manter os virtuosos. Busquemos transformar a excelência em hábito. Busquemos fazer nossa lição de casa. Assim, naturalmente, virá o sucesso, a felicidade e a desejada luz.
E não nos esqueçamos: as grandes transformações dependem das pequenas atitudes.
Bruno Silveira
ARLS 20 de Agosto, nº 2408, GOB/GOSP, São José dos Campos, SP
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